Sexta-feira, 11 de Maio de 2007

Olhar no espelho...do Município de Lisboa e não só

Estas peripécias e acontecimentos, independentemente das motivações pessoais, mais ou menos sérias e honestas, no caso em apreço e pesem todas as criticas que se possam tecer, é inequívoco que se trata de uma personalidade “do desassossego”.

Para o bem e para o mal HR é uma pessoa que nunca se “acomodou” com alinhamentos e seguidismos. Aquilo que habitualmente se chama o “carreirismo do aparelho”.

A situação por si agora criada e recorda-se já acontecida em outro contexto e com outra figura de relevo na política nacional, é bem reveladora de pelo menos duas situações:

 

A primeira, é pôr a nu o que é um comportamento ziguezagueante, das pessoas em geral, e dos militantes partidários em particular (em todos os partidos isso sucede e é publico). As opiniões que se revelam num dado momento são contraditas imediatamente a seguir em outra circunstancia. Por um lado criticam-se os aparelhos e quem os controla, logo a seguir critica-se algo mais profundo que surja fora do contexto desse mesmo aparelho. Não há ideologia como dantes é o que é.

 

A segunda, é a revelação de que ninguém estava preparado. No caso do P.S. poderá mesmo dizer-se (tendo em conta os mais recentes comportamentos por acção da concelhia e por omissão da direcção nacional) que existe um vazio estratégico completo quer quanto a possíveis candidatos com o mínimo de estatura política e credibilidade suficientemente ganhadora (concorra-se sozinhos ou em coligação e não é a mesma coisa) quer quanto a ideias programáticas para uma boa gestão da cidade e dos seus recursos em ordem a uma visão estratégica de futuro cosmopolita.

 

Como alguém já referiu, pertencemos a um país onde a falta de pontualidade é um hábito;

Pertencemos a um país onde os directores das empresas não valorizam o capital humano, mas recebem rios de dinheiro, tendo os gestores de topo, nos últimos 15 anos, “sofrido” um acréscimo nas suas remunerações de mais de 220%;

Pertencemos a um país onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos;

Pertencemos a um país onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros, mas gastam à tripa forra uma e outra;

Pertencemos a um país onde não existe cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem económica. Onde nossos políticos trabalham alguns dias por semana para aprovar projectos e leis, a maioria delas sem regulamentação o que as torna ineficazes e que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar a alguns;

Pertencemos a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser "compradas", sem se fazer qualquer exame;

Pertencemos a um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não dar-lhe o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão. Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.

 

Aliviamos o nosso ego porque:

Quanto mais analisamos os defeitos dos políticos e daqueles que controlam os aparelhos partidários, melhor nos sintamos como pessoas, apesar de que ainda ontem corrompermos um guarda de trânsito para não ser multado;

Quanto mais culpamos o sistema, melhor nos achamos como portugueses, apesar de nos explorarmos uns aos outros continuadamente;

Quanto mais batemos no peito, nos digamos cristãos e de confraternizarmos com o padre lá da paroquia mais lucros queremos obter e menos pessoas aceitamos empregar.

 

Esses defeitos, essa "chico-espertice” portuguesa congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que os defeitos e deficiências de quem nos tem governado, é que é real e seriamente ruim, porque todos eles são portugueses como nós, eleitos por nós. Nascidos aqui, não em outra parte.

 

Fico triste porque, ainda que o Carmona se vá embora, o próximo que o suceder (seja o António Costa, a Helena Roseta, o Rubem de Carvalho, o mesmo Carmona, a Ferreira Leite, Ângelo Correia ou outro/a qualquer) terá que continuar a trabalhar com a mesma matéria-prima defeituosa que, como povo, somos todos nós. E não poderá fazer nada…, não há nenhuma garantia de que alguém possa fazer o que é urgente e necessário fazer-se. Mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá para dar o rumo certo à gestão da coisa pública na capital.

Em Lisboa é necessário que surja alguém, como surgiu a nível nacional, uma espécie de “Sócrates II” com capacidade para escolher uma equipa responsável e devidamente “controlada” por um líder cuja competência não seja possível questionar e colocar em duvida.

 

É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda...

 

Somos nós que, também, temos que mudar e muito. Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a acontecer: Desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso. Aceitamos com a maior das passividades o lançamento de concursos branqueadores do nosso passado recente. Admitimos a existência de irresponsabilidades e má educação, nas escolas, por parte de alunos e pais dos mesmos. Toleramos a existência de cursos e universidades sem o mínimo de qualidade e de aplicabilidade às necessidades do país.

 

Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e

 

Quando nos olhamos no espelho, se virmos bem, aí estão muitas das respostas, para o que andamos a criticar a outros, não precisamos de procurá-las noutro lado.

 

E vocês, o que pensam?.... Meditem!



Publicado por: EBranquinho às 00:01
publicado por EBranquinho às 12:16
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